Enxugar a Série A do estadual é o único caminho para os clubes crescerem
Sul-Mato-Grossense já teve 18 times na 1ª divisão, mas hoje não comporta mais 12 clubes; só os mais fortes deveprevalecem para brigar por voos mais altos
Antes de começar a ler este artigo, por favor, deixe seu clubismo de lado.
A Série A do Campeonato Sul-Mato-Grossense precisa ter dez times em vez de 12 em 2018, pelo bem do nosso futebol. É um princípio básico: só os mais fortes sobrevivem. Dez é o número de clubes que atualmente possuem condições financeiras – ainda que razoáveis – para disputar um torneio com custos tão elevados como o nosso. Sem contar que é menos gente para dividir o bolo dos patrocinadores. Com mais dinheiro em caixa, esses dez times teriam chances maiores de se estruturar e brigar por voos mais altos, como um acesso à Série C do Brasileirão ou uma fase avançada da Copa do Brasil, por exemplo.
A divisão de elite estadual vem sendo enxugada gradualmente desde 2010 – naquele ano, 18 equipes disputaram a competição. Em 2017, o regulamento prevê o rebaixamento de quatro clubes. Com isso, a temporada 2018 teria dez clubes na Série A. Apesar dos esforços da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, vários dirigentes são contrários à medida porque entendem que isso prejudicaria os clubes de menor estrutura. Sob risco iminente de queda, a segundona estadual seria a “morte” para esses clubes.
Quando se pensa em 12 ou mais times na elite, o campeonato acaba nivelado por baixo e o nível técnico é chutado para escanteio. Já virou rotina: todo ano, dois ou três times ameaçam desistir porque simplesmente não têm dinheiro. E se mesmo assim entram no torneio na base do sacrifício, esses clubes dão vexame dentro de campo e deixam para trás dívidas impagáveis com jogadores, comissão técnica e fornecedores.
Um refresco à memória: de 2008 até hoje, 13 times em crise prometeram abandonar a Série A. Cinco concretizaram a ameaça: Ponta Porã, Camapuã e Coxim (2008), Costa Rica (2011) e Itaporã (2016). Outros, como Ubiratan, tiveram a Série B como destino e provavelmente não sairão de lá tão cedo. É a famigerada “morte” dos clubes, na visão de alguns cartolas.
Este ano, a desistência ronda Águia Negra, Ivinhema e Naviraiense. Só que com um agravante: as prefeituras, sempre parceiras de primeira hora, deixaram de contribuir financeiramente com os clubes de suas cidades. Prudentes, esses dirigentes fazem bem em cogitar o adeus precoce. Do contrário, a fatura ficaria para eles próprios pagarem, com dinheiro do próprio bolso. Vale ressaltar que um time profissional completo para disputar todo o estadual custaria, com enorme carestia, R$ 150 mil só de salários, sem contar despesas extras. Reconhecer a falta de condições e abdicar do direito de disputar o campeonato seria, acima de tudo, um ato de nobreza.
Só há dois caminhos a seguir nessa encruzilhada: manter o campeonato inchado com equipes financeiramente debilitadas ou enxugar ainda mais, para que a competência prevaleça sobre o compadrio, e para que nossos clubes consigam se fortalecer e se estruturar.
Texto: Hélder Rafael, repórter do GloboEsporte.com