Tyson 50 anos: polêmico, midiático e brutal, o homem que fez o boxe renascer
“O Distrito da Capital estará assistindo a um lutador que definitivamente tem o potencial de trazer o cinturão dos pesos pesados para a área”
Distrito da Capital é como se chama Albany, capital de Nova York. Naquele estado, mais precisamente no Brooklyn, há exatos 50 anos, nasceu Mike Tyson, e foi desta forma que o lendário treinador Cus D’Amato apresentou seu mais novo pupilo antes da estreia profissional.
Aos 18 anos, ele enfrentaria Hector Mercedes em 6 de março de 1985 no “quintal de casa”, no Plaza Convention Center, em Nova York.
O jovem pugilista já vinha impressionando a todos, sendo considerado o número 2 do mundo dentre os amadores, atrás apenas do cubano Teófilo Stevenson, três vezes campeão mundial e olímpico nos pesados que nunca lutou profissionalmente.
Tyson quase representou os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984, mas perdeu nas seletivas para Henry Tillman.
Os olhos de D’Amato, porém, não o enganavam: desde o primeiro contato com o lutador, quando este tinha 12 ou 13 anos, ele sabia do potencial ainda “enjaulado”.
A primeira luta de Mike Tyson durou um minuto e 47 segundos: vitória por nocaute técnico no primeiro assalto sobre Hector Mercedes.
Ali surgia o fenômeno. The Iron, “o homem de ferro”. Não apenas pela rapidez com a qual derrotava seus adversários (como os 19 nocautes nas 19 primeiras lutas), mas também pela quantidade de embates até ter sua primeira chance de cinturão.
Em 18 meses – março de 1985 a setembro de 1986 -, Mike Tyson participou de 27 lutas, ganhando todas, 25 delas antes de o último gongo soar, derrubando rival atrás de rival. Desafios a cada 15, 10, nove dias, algo sem precedentes.
Foram 25 oponentes enfrentados em casa, Nova York, viajando apenas duas vezes para outra cidades: Houston, Texas, diante de Eddie Richardson, em sua 12ª luta; e Alfonso Ratliff, em Las Vegas, na 27ª.
Assim, em 22 de novembro de 1986, ou 626 dias depois de sua estreia profissional, “The Iron” ganhou a primeira oportunidade para ser campeão no 28º embate: o adversário era Trevor Berbick, dono do cinturão pelo Conselho Mundial de Boxe (WBC).
A luta foi um verdadeiro passeio. Mike Tyson atropelou o oponente por dois rounds, até que Berbick, completamente desnorteado pelos golpes, não conseguia manter-se em pé. Por duas vezes tentou se levantar e caiu miseravelmente na lona.
O Fenômeno surgiu.
Aos 20 anos, Mike Tyson se tornou o mais jovem campeão de uma organização do boxe e o mais novo queridinho dos Estados Unidos.
O “último grande campeão” dos pesos pesados. Seu estilo agressivo o fez angariar fãs em todas as partes do mundo, garantindo audiências incríveis e uma explosão de manchetes em jornais e revistas. Em uma época sem internet, o boxeador era conhecido internacionalmente e logo virou também parte da cultura pop.
Nos ringues, manteve o título mundial contra nove oponentes distintos, entre eles Larry Holmes (um dos poucos a derrotar Muhammad Ali) e Michael Spinks, que estava invicto em 31 lutas e após perder em somente 1min31s se aposentou.
Até que apareceu em seu caminho James “Buster” Douglas. Pouco conhecido, o pugilista de Ohio chocou a todos no dia 11 de fevereiro de 1990, em Tóquio, ao derrotar o então super-campeão por nocaute no décimo round, causando uma das maiores surpresas da história do esporte.
Primeira derrota da carreira de Tyson, e uma nova caminhada rumo ao título começava. Mas ela não durou muito: em julho de 1991, ele foi acusado de ter estuprado Desiree Washington, de 18 anos, em um hotel de Indianápolis.
Considerado culpado, o pugilista foi condenado em março de 1992 a seis anos prisão, podendo ganhar liberdade condicional por bom comportamento após quatro anos. Acabou atrás das grades por três anos e retomou a carreira.
Após 50 meses fora dos ringues, Tyson voltou com duas vitórias e logo teve a chance de conquistar o título do Conselho Mundial de Boxe contra Frank Bruno, a quem já havia vencido quando era imbatível. Novo triunfo e cinturão garantido.
Ganhou também o título da Associação Mundial de Boxe antes de enfrentar o adversário de sua vida: Evander Holyfield. Já aos 34 anos, The Real Deal tentava retomar o título dos pesados… e conseguiu! Vitória por nocaute no 11º round sobre o então campeão no dia 9 de novembro de 1996.
A revanche foi marcada para 28 de junho de 1997, em Las Vegas, e ficou marcada por uma das cenas mais emblemáticas da história: Mike Tyson morde as duas orelhas de Evander Holyfield e acaba desclassificado da luta. Quase é banido para sempre do boxe, mas ficou “apenas” com multas milionárias e uma suspensão de um ano e meio.
Ele volta em 1999 e ganha quatro de seis lutas (uma ficou sem resultado por causa de golpe ilegal em Orlin Norris e na outra foi flagrado no exame antidoping com maconha), naquele que foi o último canto do cisne: a disputa pelo cinturão contra Lennox Lewis em 8 de junho de 2002. No duelo em Memphis, Tyson não teve chances e foi nocauteado outra vez, no oitavo round.
“The Baddest Man on the Planet” (o homem mais malvado do planeta) aposentou-se do boxe prestes a completar 39 anos em 11 de junho de 2005 com uma nova derrota, agora para Kevin McBride. O cartel ficou em 58 lutas com 50 vitórias (44 por nocaute), seis derrotas e duas sem resultado.
Mesmo com seu currículo e o dinheiro recebido como lutador (cerca de US$ 300 milhões), Mike Tyson foi à falência em 2003, chegando a dever US$ 23 milhões.
Os altos e baixos o fizeram dizer, em entrevista há 11 anos, que sua vida “foi um desperdício. Eu tenho sido um fracasso”. Desde então, já foi detido por posse de drogas, participa de programas de TV dos mais variados temas e é protagonista de documentários.
Um fracasso, sua vida não foi. E nem de longe foi monótona. Tyson é uma lenda, e como acontece todas elas é exemplo, para o bem ou para o mal.
fonte:ESPN