Desde pequeno, eu tinha essa ideia de ser goleiro. Sempre jogava as peladas no gol. E como goleiro, não havia coisa que me desse mais alegria do que sair de um jogo sem falhar. Todo mundo pode errar, mas o goleiro é o último do time. Tomar gol acontece. O erro não pode acontecer. Além disso, uma defesa de pênalti é como o atacante fazer o gol. É o máximo que um goleiro pode fazer.Tu surpreende todo mundo, que já conta com um gol. Tu muda algo que era para ter acontecido. Sei que tive grande decisões nos pênaltis em minha carreira. Mas um goleiro não pode ficar marcado como um pegador de pênalti. Tu precisa do contexto todo. Gostaria de não ser lembrado só por isso, mas cada torcedor tem uma imagem tua e ressalta um detalhe teu. Cada torcedor lembra de uma coisa, tem uma visão. Isso não cabe a mim definir.

Aquele foi um dia bastante feliz. Era a semifinal das Olimpíadas de 1988, em Seul, e o nosso time era muito bom, assim como o da Alemanha Ocidental. Saímos atrás, com gol do Holger, se não me engano. Empatamos com um do Romário e o jogo tinha tudo para terminar empatado em 1 a 1. Com sete minutos faltando para acabar, acontece o pênalti para a Alemanha.

O que me recordo é de ter uma tranquilidade muito grande diante do cobrador, o Funkel. Eu sabia que se me jogasse para um canto e ele só batesse no outro, acabava a nossa chance, o nosso sonho. Então fiz algo que não fazia. Deve ter sido a primeira vez que consegui esperar a cobrança antes de pular. Deu para ver perfeitamente quando ele virou o pé para chutar a bola. Mas não foi só isso.

O empate levou a decisão para a disputa de pênaltis. Acho que foi a minha primeira com a Seleção, e deu certo. Peguei dois pênaltis, o Klinsmann chutou um deles para fora e nos classificamos para a final. Na hora, depende muito do teu estado psicológico. Geralmente, eu conseguia me manter tranquilo. Na Copa de 94, por exemplo, eu estava muito nervoso nas primeiras cobranças. Quando coloquei na cabeça que tinha que esperar a cobrança, peguei o chute do Massaro. O batedor muitas vezes te mostra o canto que ele vai bater. Às vezes ele olha para o canto, em outras enquadra o lado do corpo. De repente, ele te mostra para onde pular. E não tem papo, conversa. O goleiro fica sempre sozinho mesmo.

Gostei muito de jogar as Olimpíadas, de participar dela. É uma competição diferente, a delegação brasileira saía toda junta. Eu estava junto com o pessoal do vôlei, era amigo do Renan dal Zotto. Depois, tu passa a conhecer atletas de outras modalidades da delegação brasileira, do basquete, do atletismo. Se eu parar para pensar que em 84 a Seleção Olímpica estava treinando no Beira Rio, enquanto eu fazia testes no Internacional…

Na Seleção, tu vai crescendo. Joguei nas categorias de base, no Pan-Americano, mas na Olimpíada eu comecei a me aproximar mais do profissional. Nos destacamos bastante, tínhamos um time muito interessante, com outros jogadores que foram para frente na carreira. Eu joguei a Copa América no ano seguinte, no Brasil mesmo. Por tudo isso, a medalha de Seul fica lá, junto com a de 94, da Copa do Mundo. Foi a grande vitrine para mim na Seleção.

Taffarel, medalhista de prata em Seul 1988 e tetracampeão do mundo com a Seleção Brasileira

fonte: CBF